Bahia terá primeira fábrica de vidro solar fora da China
A Bahia será o primeiro lugar fora da China a ter uma fábrica de vidro solar. O investimento de R$ 1,8 bilhão será feito no município de Belmonte, a cerca de 600 km de Salvador. A responsável pelo projeto é a empresa Homerun Brasil, ligada à mineradora canadense Homerun Resources. O anúncio oficial foi feito na segunda-feira (12), com a assinatura de um acordo entre a CBPM (Companhia Baiana de Pesquisa Mineral), a Secti (Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia), a Bahiagás, a Prefeitura de Belmonte e a Homerun Brasil.
A fábrica será construída em um terreno de 60 hectares doado pela prefeitura e deve gerar cerca de 600 empregos diretos e 2.800 indiretos. A unidade terá tecnologia avançada para produzir vidro solar de alta eficiência, usado em painéis fotovoltaicos.
A escolha de Belmonte se deve à presença de uma grande reserva de areia silicosa de altíssima pureza no distrito de Santa Maria Eterna, área sob responsabilidade da CBPM. Estudos da Homerun Resources apontam que a região possui mais de 63 milhões de toneladas de areia com pureza superior a 99,6% de dióxido de silício (SiO₂), matéria-prima essencial para o vidro solar.
Henrique Carballal, presidente da CBPM, explicou que essa areia tem características ideais para uso industrial: granulação fina, baixa umidade e pureza elevada. Ele destacou o papel da CBPM em fornecer dados geológicos, garantir os direitos sobre a jazida e atrair investimentos para a Bahia.
O diretor da Homerun Brasil, Antonio Vitor, reforçou a importância da areia de Belmonte, afirmando que ela tem uma pureza única no mundo. “Essa sílica transformada em vidro solar vai melhorar a captação de luz nos painéis. Com essa tecnologia, as placas poderão gerar até o dobro de energia em relação às atuais”, disse. A Bahia será o segundo lugar no mundo a fabricar esse tipo de vidro.
Análises laboratoriais confirmaram que a areia precisa apenas de uma lavagem simples para alcançar a pureza ideal, sem necessidade de produtos químicos. Isso a torna útil não só para painéis solares, mas também para vidros especiais, cerâmicas técnicas, eletrônicos e fundição.
Na indústria do vidro, essa sílica é usada para painéis solares e vidros resistentes. No setor cerâmico, serve para produtos de alta precisão. Já na eletrônica, é usada na produção de semicondutores, fibras ópticas e placas de circuito. Por sua estabilidade, também é usada na moldagem de metais.
A Homerun informou que essa avaliação faz parte do compromisso firmado com a CBPM, dentro de um contrato de 40 anos para o uso da área.
Segundo Brian Leeners, CEO da Homerun Resources, a visita à região confirmou o potencial do local. “Agora temos dados que mostram o valor da nossa reserva. A areia silicosa será a base de vários negócios, principalmente nos setores de energia solar e baterias”, afirmou.
Energia solar com inteligência artificial
No dia 31 de março, a Homerun fechou acordo com a Prefeitura de Belmonte para implantar o primeiro projeto-piloto do Brasil com sistema solar e armazenamento de energia usando inteligência artificial. O projeto será conduzido pela Homerun Energy, nova unidade da empresa criada após a compra da Halocell. A tecnologia vai otimizar o uso de baterias solares e será a primeira desse tipo na América Latina.
Devido à qualidade da areia, a empresa também decidiu construir em Belmonte uma unidade de beneficiamento da matéria-prima, que antes seria feita em Ilhéus. O investimento é de R$ 100 milhões, e a planta deve empregar cerca de 180 pessoas diretamente. Ela será responsável por preparar a areia para atender aos padrões exigidos por indústrias de alta tecnologia.
Camaçari também disputava o projeto, mas a qualidade da matéria-prima e o alinhamento com os planos da CBPM e da prefeitura fizeram com que Belmonte fosse escolhida para sediar todo o complexo.