Pelo menos 14.705 famílias em situação de rua vivem em praças, debaixo de viadutos e nas esquinas esquecidas das cidades da Bahia. Esse número, já alarmante por si só, mais do que triplicou desde 2020, quando o estado registrou 4.289 famílias vivendo nessas condições. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), que coleta informações sobre pessoas em situação de rua incluídas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.
É possível que o número real de pessoas nessa situação seja ainda maior, pois a subnotificação continua sendo um problema. O MDS alerta que os números mais baixos registrados em anos anteriores podem não refletir com precisão a realidade da população em situação de rua, devido a falhas na atualização e manutenção dos dados durante a gestão anterior.
Desde 2023, o Cadastro Único está passando por um processo de correção e qualificação dos registros das famílias. Estima-se que, em dezembro de 2022, menos de 60% dos dados estavam atualizados, e atualmente esse índice já chega a quase 90%.
Além da falha na atualização dos dados, o aumento expressivo de pessoas nas ruas nos últimos cinco anos pode ser explicado por outros fatores. A advogada, pesquisadora e escritora Eugênia Fernandes Bengard, autora do livro Quem Tem Casa é Caracol: População em Situação de Rua em Salvador e o Conceito Jurídico de Moradia, aponta que a pandemia de COVID-19 agravou a vulnerabilidade da população em situação de rua e alterou seu perfil.
“A pandemia fez com que muitas famílias não conseguissem pagar seus aluguéis e, durante a crise mais intensa, vimos famílias inteiras nas ruas. Até o final de 2022, também observamos um enfraquecimento das políticas públicas, o que contribuiu para esse aumento”, afirma Eugênia.
A falta de informações e pesquisas sobre a realidade dessas famílias, tanto no nível estadual quanto federal, reflete o descaso com o qual elas são tratadas todos os dias.