Durante sessão na Câmara, Jacione rebateu críticas sobre o processo seletivo com ataques ao site Sul Bahia Debate, ignorando o princípio de fomento cultural e revelando favoritismo a artistas “reconhecidos”, deslegitimando outros participantes
Durante a sessão da Câmara Municipal de Pau Brasil, realizada em 10 de junho de 2025, a coordenadora de cultura do município, Jacione, protagonizou uma fala marcada por ataques diretos à imprensa local, especificamente ao portal Sul Bahia Debate, após reportagem que questionava a falta de transparência na divulgação dos selecionados para os editais da Lei Aldir Blanc.
A crítica foi direcionada à matéria “Pau Brasil: Falta de transparência marca divulgação dos selecionados na Lei Aldir Blanc“, assinada por Ricardo Borges, músico desde os 13 anos, conhecido por sua atuação na música gospel e por formar jovens músicos no município. No entanto, em vez de responder tecnicamente aos questionamentos levantados – como a ausência de critérios objetivos de pontuação ou publicação das notas atribuídas – a gestora partiu para um ataque pessoal ao autor e à equipe do veículo:
“Eu estou vendo aí um blog, um blogzinho aí medíocre. Medíocre! Eu chamo medíocre de pessoas que não sabem nem o que é cultura.”
A declaração evidencia um posicionamento arbitrário e excludente de quem ocupa um cargo público que deveria, por essência, fomentar a diversidade e estimular o surgimento de novos agentes culturais. Em vez disso, Jacione deixou explícita uma divisão entre quem, segundo ela, “faz” ou “não faz” cultura:
“Em Pau Brasil todo mundo sabe quem são os artistas da cidade… As pessoas que foram selecionadas têm história, têm trajetória na cidade.”
A fala coloca em xeque a lisura do processo seletivo, pois sugere prévia definição de vencedores, baseada em laços de reconhecimento pessoal e histórico. A Lei Aldir Blanc, por sua própria finalidade, visa promover o acesso democrático aos recursos públicos para a cultura, estimulando novas expressões, talentos e oportunidades, o que inclui justamente aqueles que ainda não têm uma trajetória consolidada, mas que encontram no incentivo uma chance de desenvolver suas ideias.
Ao invés de celebrar esse objetivo, a coordenadora minimizou o surgimento de novos proponentes:
“Agora, só porque tem dinheiro para ser gasto, aparece um monte de gente dizendo que faz cultura.”
Esse tipo de declaração fere os princípios do edital, que deveria ser impessoal, inclusivo e transparente, e transforma o processo seletivo em uma ferramenta de exclusão. Ao demonizar participantes “novos”, a coordenadora ignora que é justamente o acesso a esse tipo de política pública que pode viabilizar sonhos e impulsionar trajetórias culturais em sua fase inicial.
Além de deslegitimar concorrentes e criminalizar a crítica jornalística, a coordenadora ainda usou seu tempo de fala para reforçar que “sabe quem são os verdadeiros artistas”, deixando claro que a seleção ocorreu não com base em critérios técnicos publicados, mas em julgamentos pessoais e subjetivos.
No contexto histórico, vale lembrar que a própria existência da Lei Aldir Blanc decorre da luta por mais igualdade de acesso à cultura, em um país onde expressões artísticas de periferia, comunidades indígenas, quilombolas e pequenas cidades como Pau Brasil sempre enfrentaram dificuldades para reconhecimento e apoio institucional. Portanto, um processo seletivo marcado por favoritismo e desprezo às críticas contraria o espírito da lei.
A postura da coordenadora Jacione, ao chamar a imprensa de “medíocre” e traçar uma linha divisória entre artistas legítimos e ilegítimos com base em relações pessoais, não apenas compromete a credibilidade da gestão cultural local, como também ameaça os pilares democráticos da política cultural pública.
É papel da imprensa, sobretudo regional, como o Sul Bahia Debate, fiscalizar, questionar e dar voz a quem não tem espaço nas instituições. E é dever de todo gestor público responder com argumentos técnicos, não com ataques pessoais.
A repercussão das falas de Jacione gerou grande comoção e repúdio por parte da sociedade civil, artistas e cidadãos de Pau Brasil, que reprovaram publicamente sua postura autoritária, seletiva e ofensiva à liberdade de imprensa. Nas redes sociais, diversos moradores expressaram apoio ao jornalista e músico Ricardo Borges, reconhecendo sua trajetória artística e sua contribuição para a formação cultural da juventude local. Solidariedade e respeito à diversidade cultural foram as palavras mais recorrentes entre os que se manifestaram, reforçando que cultura não deve ser instrumento de exclusão, mas de inclusão e pluralidade.